domingo, 7 de dezembro de 2008

Flávia Fayet por Martha Medeiros

Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.
Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz.
Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada.
Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais.
Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo.
Nem eu sou o que penso que eu sou.
Nem nós o que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol.
Trabalho sem salário e não entendo de economizar.
Nem de energia.
Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho.
Não vou à missa. Nem faço simpatias. Mas, rezo pra algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo.
Quando é impossível, debocho.
Quando é permitido, duvido.
Penso mais do que falo.
E falo muito, nem sempre o que você quer saber.
Eu sei.
Gosto de cara lavada — exceto por um traço preto no olhar — pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.
Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores, mas, não raro, sofro de timidez.
E note bem: não sou agressiva, mas defensiva.
Impaciente onde você vê ousadia.
Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros.
Estranhos desertos.
E, “ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo.”
*-*-*
Sou tudo isso e nada ao mesmo tempo, sou bem mais do que meras definições ou quase nada...
Mas antes de me julgar, me conheça melhor!

Um comentário:

Mariana disse...

Oi, gostaria de saber qual o nome desta crônica linda da Martha Medeiros, não acho em lugar algum...